Mário Soares foi o primeiro exilado político a regressar a Portugal a seguir
ao Movimento das Forças Armadas que em 25 de Abril de 1974 derrubou a
ditadura. Chegou a Lisboa no dia 28, no “comboio da liberdade”, tendo à sua
espera uma multidão que o saudou e aplaudiu.
Os tempos que se seguiram conduziram-no a afirmar-se cada vez mais como um
líder europeu, ao mesmo tempo que granjeava da posição de político português
com maior reconhecimento internacional. Após o comício do 1.º de Maio,
recebeu a missão de obter o reconhecimento internacional da revolução
portuguesa, visitando as principais capitais europeias, onde reuniu com
François Mitterrand, Harold Wilson, Olof Palme, Willy Brandt, Joop Den Uyl,
Trygve Bratteli.
“A hora não é para a realização de uma política partidária mas sim para
uma política da mais ampla unidade das forças democráticas, das forças
do progresso para, unidos, fazermos frente aos gravíssimos problemas que
o país neste momento enfrenta”
Nomeado Ministro dos Negócios Estrangeiros dos três primeiros governos
provisórios (1974-1975), desenvolveu uma ampla ação diplomática de abertura
de Portugal ao exterior, de estabelecimento de relações com inúmeros países,
e iniciou o processo de descolonização, pelo qual tanto se bateu. Em
setembro de 1974, ao discursar, pela primeira vez, na Assembleia Geral das
Nações Unidas, afirmou: “Quero deixar bem claro que o Portugal livre e
democrático que estamos a construir, com grandes dificuldades, mas
estimulados pela confiança generalizada do nosso povo, começa agora a
sentir-se orgulhosamente acompanhado”.
A intensificação das relações comerciais e políticas com os Estados-membros
da Comunidade Económica Europeia (CEE) compunha uma prioridade. Consciente
da situação delicada da economia portuguesa, Soares desenvolveu uma hábil
ação de aproximação à CEE, destacando a condição do país enquanto elo entre
a Europa e África. Em paralelo, os contactos estabelecidos traduziram-se em
apoios internacionais, especialmente os dos socialistas europeus ao Partido
Socialista, jovem partido ainda em estruturação.
Num período em que os confrontos político-militares se intensificavam em
Portugal, Mário Soares afirmava-se como principal rosto político da defesa
de uma democracia pluralista para o futuro do país. Era o líder do partido
que venceu as primeiras eleições livres portuguesas – para a Assembleia
Constituinte, em 25 de abril de 1975 – deixando patentes as suas posições,
em particular nos confrontos que o opunham ao Primeiro-ministro, Vasco
Gonçalves, e ao líder do PCP, Álvaro Cunhal. O fim da revolução, em 25 de
Novembro de 1975, e a institucionalização da democracia trouxeram as
condições políticas e sociais para Mário Soares e o Partido Socialista
inscreverem a adesão às Comunidades Europeias como um grande objetivo a
alcançar.
“
Esse Portugal renovado deixou de ser um país hostil e reticente à ONU e
relapso no cumprimento das obrigações que lhe cabem. É hoje um país
desejoso de participar plenamente na vida internacional, acatando as
recomendações das Nações Unidas, e de reentrar com total boa- fé no
concerto das nações, aí marcando a posição a que a sua velha cultura e a
sua história multissecular lhe dão direito.
“O governo português considera que deve poder tornar-se membro do
Conselho da Europa desde que se realizem eleições livre para a
Assembleia Constituinte. Com efeito, não só essas eleições serão o
indício comprovativo fundamental da existência de uma democracia
pluralista (...)"