1924-2017
A sua vida e ação política foram marcadas por uma luta constante pela liberdade e democracia, em defesa da paz, dos direitos humanos, de uma maior solidariedade na Europa e no Mundo e por uma reflexão profunda sobre os grandes desafios da sociedade.
Mário Soares foi
um político central
da História Contemporânea
de Portugal e da Europa.
O combate
contra a ditadura
portuguesa
Mário Soares nasce em Lisboa, a 7 de dezembro de 1924, no seio de uma família republicana. Combateu a ditadura portuguesa desde cedo, integrando várias estruturas oposicionistas. Foi autor e subscritor de importantes documentos de contestação ao Regime e participou ativamente nas candidaturas dos generais Norton de Matos e Humberto Delgado à Presidência da República, momentos que abalaram a ditadura.
Em 1964, é um dos fundadores da Acção Socialista Portuguesa, que será admitida à Internacional Socialista em 1972. Soares foi ainda candidato à Assembleia Nacional nas listas da Oposição Democrática (1965) e da CEUD-Comissão Democrática de Unidade Eleitoral (1969). Como advogado, defendeu inúmeros presos políticos.
Internacionalmente, desenvolveu uma ampla campanha de denúncia da situação política portuguesa, particularmente contra as guerras nas então colónias. Por tudo isso, foi preso doze vezes, deportado para S. Tomé (1968) e exilado político em França, a partir de 1970. No exílio, escreve a sua obra mais emblemática, intitulada Portugal Amordaçado, cuja primeira edição é publicada em francês, em 1972, e proibida em Portugal.
Contacta com as principais figuras do socialismo europeu, como François Mitterrand, Willy Brandt e Olof Palme, cimentando uma ideia para Portugal, que vai divulgando em entrevistas e artigos que escreve na imprensa internacional. Em 1973, funda o Partido Socialista, em Bad Münstereifel, na Alemanha, sendo eleito Secretário-geral, cargo que ocupa durante doze anos.
A construção
da democracia
em Portugal
Mário Soares é o primeiro exilado político a chegar a Portugal após o derrube da ditadura, a 25 de Abril de 1974, tornando-se num político determinante na transição e institucionalização da democracia portuguesa e construtor do seu Estado Social.
Assume os cargos de Ministro dos Negócios Estrangeiros (1974-1975) e Sem Pasta (1975). Leva a cabo uma intensa atividade diplomática de reconhecimento internacional da nova realidade política vivida em Portugal e de abertura ao exterior, depois de décadas de isolacionismo, e inicia o processo de descolonização. Durante o período revolucionário (1974-1975) bate-se pela instituição de um regime pluripartidário, de tipo Ocidental, protagonizando duros confrontos com o Partido Comunista Português. Rapidamente se torna o político português com maior notoriedade internacional.
Mário Soares é eleito deputado nas primeiras eleições livres, por sufrágio direto e universal realizadas em Portugal, para a Assembleia Constituinte (1975).
Um ano depois, em abril de 1976, vota a Constituição democrática portuguesa. Nesse mesmo ano, é eleito Vice-Presidente da Internacional Socialista, ocupando o cargo durante dez anos.
Primeiro-Ministro de três governos constitucionais (1976-1978; 1983-1985), em que são dados passos decisivos na construção do Estado Social e em matérias de direitos e liberdades fundamentais, é Mário Soares quem pede e negocia a adesão de Portugal às Comunidades Europeias e, em 1985, assina o tratado de adesão.
Exerce o cargo de Presidente da República durante dois mandatos (1986-1996), adoptando um novo estilo de presidência: próximo dos cidadãos, percorrendo o país nas suas “presidências abertas”, exercendo a sua “magistratura de influência” e tornando célebre a expressão “presidente de todos os portugueses”.
Uma voz escutada
internacionalmente
Em 1996 assume a presidência da Fundação a que dá o nome, reunindo importantes espólios no domínio da história contemporânea e realizando um importante trabalho de cooperação internacional. Mas não deixa de assumir novos desafios. Em Portugal, destaca-se a presidência da Comissão Nacional das Comemorações do 50º aniversário da Declaração Universal dos Direitos do Homem (1998) e da Comissão da Liberdade Religiosa (2007-2011). Em 1999, foi o cabeça de lista do Partido Socialista às eleições europeias, cumprindo um mandato como eurodeputado (1999-2004).
Internacionalmente, entre muitas outras funções, foi presidente da Comissão Mundial Independente para os Oceanos (1995-1998), do Comité Promotor do Contrato Mundial da Água (1997), do Movimento Europeu (1997-1999), do Comité dos Sábios para a Reestruturação do Conselho da Europa (1997-1998) e, desde 2009, Patrono do International Ocean Institute. O seu reconhecimento internacional leva-o a ser nomeado pelo Secretário-Geral das Nações Unidas Kofi Annan em Missão de Informação sobre a situação da Argélia (1998) e a chefiar a Delegação do Parlamento Europeu para as relações com Israel (2002), além das inúmeras comissões a que presidiu, no âmbito da Internacional Socialista, no Médio-Oriente, na América Latina e África Austral.
Ao longo da sua vida recebeu inúmeros prémios, condecorações e doutoramentos honoris causa de todo o mundo.
Frequentemente convidado a intervir em conferências e colóquios internacionais, nunca deixou de escrever, de reflectir e debater sobre os grandes temas da atualidade mundial, assim como de se manifestar publicamente em defesa dos valores em que acreditava.
Morre em Lisboa, a 7 de janeiro de 2017, deixando uma vasta obra publicada sobre Portugal, a Europa e o Mundo, as suas principais figuras, acontecimentos e problemáticas.